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Canção do vento e da minha vida
O vento varria as flores,
O vento varria os frutos,
O vento varria as flores...
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De frutos, de flores, de folhas.
O vento varria as luzes,
O vento varria as músicas
O vento varria os aromas...
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De aromas, de estrela, de cânticos.
O vento varria os sonhos
E varrias as amizades
O vento varria as mulheres...
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De afetos e de mulheres
O vento varria os meses
E varria os teus sorrisos...
O vento varria tudo!
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De tudo.
(Manuel Bandeira, Lira dos Cinqüent’Anos)
OLHA-ME rindo uma criança
E na minha alma madrugou.
Tenho razão, tenho esperança
Tenho o que nunca me bastou.
Bem sei. Tudo isto é um sorriso
Que é nem sequer sorriso meu.
Mas para meu não o preciso
Basta-me ser de quem mo deu.
Breve momento em que um olhar
Sorriu ao certo para mim....
És a memória de um lugar,
Onde já fui feliz assim.
(Fernando Pessoa, Poesias Coligidas / Inéditas 1919-1935)
O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pela estrada
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo
(Alberto Caeiro, Fernando Pessoa - Obra Poética)
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